Rubens Amador

Fatos & bom humor

Rubens Amador
Jornalista

Eu saía da missa das dez, na Catedral, naquele domingo ensolarado que convidava as pessoas a realizarem coisas boas naquele dia. Vinha pela rua Andrade Neves, caminhando, cerca de 11h da manhã, nas proximidades do Asilo de Mendigos. Ao passar pela hoje Academia Pelotense de Letras, que precedeu as Bandeirantes, por associação, lembrei-me de um velho amigo delegado de polícia, homem muito inteligente (autor de uma vintena de livros) e que formou-se como policial na Escola de Polícia de Chicago.

Professor de inglês, pouco depois voltou à América com sua família e permaneceu por lá por quatro anos. Possuo a foto do Kennedy que foi ministro da Justiça americana entregando-lhe o seu diploma, na Academia de Polícia onde concluiu seu curso. Seu nome é Epitácio Torres, hoje falecido, irmão de outro grande amigo meu, o Marcos Torres. Desde os tempos de ginásio, quando nos conhecemos, estabelecemos grandes amizades que duram até hoje.

Tal associação de ideias me veio porque um tio seu, chamado João Afonso Corrêa de Almeida, até as Bandeirantes ocuparem o prédio da hoje Academia, emprestara seu nome por muitos anos à escola que ali existiu por décadas. E aqui vai um fato histórico que poucas pessoas sabem: eu, soube-o pelo meu querido e grande professor de português, Francisco de Paula Alves da Fonseca, que em aula, certo dia, contou-nos que fora contemporâneo e colega do professor João Affonso Corrêa de Almeida e que, e aqui a revelação importante, foi ele o único pelotense que escreveu uma gramática francesa e outra do idioma português! Era homem de grande saber e morreu aos 60 anos, ao subir num bonde puxado por alimárias naquela época, ocasião em que caiu fulminado por um infarto. O professor João Affonso nasceu em 1854 e faleceu em 1916, para os que gostam de história das coisas da cidade (houve um tempo em que pensei ser seu conterrâneo em vida, tal o apreço que guardava por sua pessoa).

Quando me encontrava defronte à hoje Academia, lembrei-me do que acabo de narrar. Pois foi neste exato momento que, de trás de mim, surge um camburão da Brigada Militar que para há uns seis ou sete metros de onde me encontrava. Vinham velozmente e pararam cantando pneus. Em seguida, abriram as portas do veículo com pressa, deixando-as abertas, e dois guardas correram em direção a dois homens que caminhavam a uns dez metros. Abordaram-nos, os revistaram de cima a baixo, os algemando em seguida. Tudo sem que eu ouvisse uma só palavra e parado fiquei no mesmo lugar, só minha cabeça acompanhou o acontecido.

Chegaram ao camburão e, com relativa energia, atiraram os homens no seu interior, batendo a porta traseira do veículo. Embarcaram, rápido como vieram, ligaram o motor e, com a mesma cantada de pneus arrancaram, levando os dois sujeitos. Foi quando retomei minha caminhada, estacada por cerca de três minutos, não mais. Neste exato momento me acudiu uma frase face ao que presenciara: "Não deve ter sido por terem ido duas vezes à missa das oito!". Sorri e retomei minha caminhada no sentido de casa.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

A verdade sobre dona Amélia

Próximo

A natureza cobra sua parte

Deixe seu comentário